quarta-feira, 4 de março de 2009

Ao mestre, com carinho


Recebo o convite de formatura de um rapaz que já foi meu estagiário. Dentre os agradecimentos aos familiares e amigos de faculdade, encontro meu nome, ao lado de outras pessoas para quem ele trabalhou. “.... mestres e referência, para a vida inteira”. Engasgo emocionada. Ligo e agradeço, mas nem consigo me lembrar direito da rápida conversa ao telefone. Leio e releio o trecho, em um misto de vaidade, surpresa e vergonha. Sim, vergonha. Não consigo encontrar em minha memória um único momento que seja – uma dica, uma conversa, a correção de um trabalho – que demonstre a minha contribuição na transformação do ex-estagiário em profissional.

Diferente de mim quando comecei. Consigo sentir o cheiro e lembrar dos sons do meu primeiro dia de estágio, de tão ávida que é a memória em minha mente. O jornalista Acyr Benfica era o meu chefe e a nossa missão era cuidar da comunicação de um importante colégio. Acyr já tinha muitos anos de profissão e trabalhado de televisão a campanha política. Eu estava no terceiro período de faculdade e ainda não tinha entrado nas matérias específicas de jornalismo. Ele me informou que teríamos um evento, me passou as informações e solicitou um release. Eu sorri e disse que tudo bem. Estava ali, no primeiro dia de trabalho do primeiro estágio que tive na minha área e não sabia o que era release. Recorri à internet e descobri que release vinha de press release, ou seja, um texto para informar a imprensa de algum fato. Esclarecido o significado vinha o segundo passo: como escrever um release? Havia escrito somente cartas, contos e poesias e o que tinha aprendido na faculdade até então seria muito mais útil para um artigo sociológico. Fui no modelo de redação escolar mesmo: um parágrafo de introdução, dois de desenvolvimento e um de conclusão.

Pela cara do Acyr quando eu entreguei o trabalho, logo percebi que o resultado tinha sido um desastre. Ele sentou ao meu lado e disse “vamos refazer juntos?”. Ele refez. A cada corte ou substituição de palavras, uma explicação. Aprendi ali como fazer um release (algo que nunca me foi ensinado nos quatro anos de curso universitário). A grande lição que tive, no entanto, foi sobre o que é ser generoso com o conhecimento e ter paciência com quem ainda não sabe. Depois disso, trabalhei com vários outros excelentes profissionais, mas o Acyr, com certeza, é um “mestre e referência, para toda a vida”.

A propósito, o ex-estagiário mencionado me impressionou com a qualidade do primeiro release que escreveu, logo em seus primeiros dias de trabalho.

André: felicidades na formatura e em sua trajetória profissional.

2 comentários:

  1. Julinha, você é linda demais.
    E me ensina de formas muito variadas essa loucura que é a Comunicação.

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  2. Eu tb fiquei feliz. Pelo post, pela dedicatória, pela história do Acyr e pelas lições da vida. Tão bom conviver com vcs dois...

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