terça-feira, 31 de agosto de 2010

Para meus amigos

Ria até a barriga doer. Tenha crises de risos em ocasiões impróprias. Assista a desenhos. Novos e antigos. Shrek e Pernalonga. Coma brigadeiro de colher. Nunca conte as calorias que existem em uma panela de brigadeiro de colher. Corra até ficar sem ar. Não tenha vergonha se o escuro te deixar com medo. Diante de uma piscina de bolinhas, não perca a oportunidade de se jogar. Ande de carrinho bate-bate (mas se beber, não dirija). Não perca todos os minutos do seu dia pensando em trabalho, problemas, contas e obrigações. Brinque de pique-esconde e pega-pega. Dê sustos em quem entrar em casa distraído e um ataque de cosquinhas em quem estiver de mau-humor. Conte piadas. Imagine ser tudo o que você sempre sonhou e não perca a capacidade de sonhar. Cresça e fique maduro, mas jamais, jamais mesmo, envelheça.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Relógio


Ô moço, vim devolver esse relógio. Você disse que ele era de nova geração, que só faltava falar. Achei que, finalmente, teria um relógio que aceitasse minhas ordens. Mas não... Esse danado é como os outros. Um insubordinado!

É só perceber que estou com pressa, que ele começa a bater mais devagar. Quando o fim do horário de trabalho se aproxima, ele fica leeeento, leeento. Quando é hora de encontrar o meu amor, então, o desgraçado praticamente não se mexe. Mas quando estou atrasada... Ah, moço! Aí é sebo nas canelas. Ele desanda a correr feito um louco só pelo prazer de me ver levar a fama de deixar as pessoas esperando. Não dá pra conviver com um relógio que está sempre contra a minha vontade! Custava ceder só um pouquinho?

O homem já foi à Lua, já descobriu a cura de várias doenças, está desvendando o código genético... Quando é que vão inventar um relógio que no lugar de angústia traga alívio?

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Turbo

Queria muito um bicho de estimação. Poderia ter comprado um cachorro, um piriquito ou um gato. Queria algo menos tradicional? Uma iguana cairia bem. Mas, não! Leo resolveu que teria um chuveiro. Desde o início, fui contra: “um chuveiro vai dar muito trabalho!”. “Imagine”, disse ele. “Chuveiros são muito obedientes, aprendem rápido e não roem sapatos. Você vai ver. Daqui a pouco você vai gostar mais dele do que eu”. “Mas precisa ser esse tão grande?”, tentei argumentar. “Esses são os melhores”, ele falou já carregando o maldito pra casa. Fui vencida. Se pudesse voltar no tempo, jamais teria cedido.

Demos ao chuveiro o nome de Turbo e, desde os primeiros dias, a relação foi difícil. Turbo, barulhento e preguiçoso, passava a noite inteira pingando para chamar nossa atenção. Além disso, ele tinha graves problemas de saúde e, várias vezes, ficávamos aflitos esperando o pior. Gastamos fortunas com seus tratamentos, mas de nada adiantou. Relutante, Leo aceitou que teríamos que deixar Turbo partir.

A regra agora é clara: chuveiro nunca mais entra nessa casa!

Fundo do Baú

Recebida em 23 de outubro de 1992.

Julia,


Eu penso em seus doze anos,
e te imagino enfoguetada,
apagando suas doze velas,
e comandando a garotada.

Toda assim, saltitante e feliz!
Rindo aqui, cochichando ali, gritando lá.
Pensa ser a dona do seu nariz!
Vou cortar suas asas já, já!

E eu de longe a te observar,
filha minha, como tens crescido!
Quero com você comemorar,
escutar todo este alarido.

E de tanto imaginar a sua festa,
de tanto desejar estar aí,
vejo no meu prato que ainda resta,
um pedaço do kibe que comi.

Humor Censurado


No Brasil, existe um maravilhoso dispositivo de controle social sobre o Legislativo: “lei que pega ou que não pega”. A ferramenta é simples. Se a lei vai de encontro ao costume... (Pausa para momento “nossa língua portuguesa”: de encontro = contra / ao encontro = a favor). Retomando: se a lei vai de encontro ao costume, o resultado é que ela não pega. Algumas leis desse tipo são tão boas, como a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança, que burlam esse obstáculo. Mas grande parte nada, nada e morre na praia. Ou melhor, na gaveta. E, convenhamos, a julgar pela qualidade do nosso Congresso, é lá que a maioria merece estar mesmo.

Pois nessa eleição o TSE, que tava meio à toa, resolveu fazer valer um artigo da lei 9.504 que, em vigor desde 97, nunca pegou muito. É o que proíbe veículos de rádio e TV de usar recursos de áudio ou vídeo que “de qualquer forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido ou coligação”. Em resumo, o humor brasileiro ganhou uma mordaça e, nós, eleitores frustrados, temos que agüentar todo o período eleitoral sem ao menos “rir da desgraça alheia” que, no caso, é a nossa mesmo.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Socorro

Gente, olha lá! Joguem uma bóia, acudam, peçam para os salva-vidas correrem! Rápido! Viram uma mão? Acho que não tem mais jeito... Vocês não viram? Aquela moça afogou no amor.

Para Anya

Ausência

Não me incomoda que não exista futuro. O que é o futuro senão um amontoado de achismos? Um lugar onde somos, irremediavelmente, felizes, magros, bem-sucedidos e amados. Aquele momento perseguido e nunca, jamais, encontrado. Não. Definitivamente, essa impossibilidade não me aflige. Há muito abandonei a ilusão de conquistar o tempo como fiador. Aceito, de mal ‘grado’, a falta de garantias.

O que me incomoda mesmo, me perturba o sono e me tira a fome, é não termos presente.