sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Carta


Oi,

Desde que você partiu escrevo-lhe pouco, pois não sei para onde mandar. Assuntos têm demais.  Estou de mudança, os tacos ficaram maravilhosos e levarei a penteadeira da vovó. Trabalho com o que mais gosto – chego a me emocionar quando penso nisso – mas ainda ganho pouco. Já consigo dizer que pareço com meu pai bem mais do que gostaria de admitir, coisa que você sempre soube. Tenho cada vez menos medo da vida, mas ainda detesto o escuro. Ele é um moço bom e me trata bem, fique tranquila. Ainda me lembro das duas únicas coisas que você me disse importarem em um relacionamento. Estou feliz, mas não perco o fetiche melancólico e sou até capaz de ver poesia nele (herança sua). Tomo e receito remédios e adoro médicos especialistas (herança sua).  Ainda me lembro com angústia daqueles dias. Conforta-me nossa última conversa e guardo na memória seus olhos piscando duas vezes: o sinal afirmativo de que tinha entendido o que lhe disse. Nunca mais vi “Viagem Para” e nem “Riacho Doce”. Vejo sempre o Ronaldo e falamos de você. Sofro quando penso que o Natal está chegando, mas seu aniversário passou despercebido. Sua ausência ainda é para mim abandono em seu estado mais puro e a saudade permanece dilacerante, mas só choro de vez em quando.

Te amo pra sempre.

Beijos,

Jolie

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