quinta-feira, 24 de maio de 2012

Não sou petista


Não sou petista, vale dizer. Sempre me confundem, mas saliento: não sou petista. Puxando pela memória, até me recordo de um dia ter sido, em alguma medida, petista. Apesar de nunca ter sido filiada, era uma espécie de militante lado B, a carregar com estardalhaço - ao menos de quatro em quatro anos - a estrela vermelha no peito. 

É a mais pura verdade que voto no Lula desde que me entendo por eleitora. E sim: assino embaixo do “nunca antes na história desse país...”. Também votei na Dilma que, além de ser sucessora do cara, ainda tem vagina (veta Dilma e faça passar um pouco da birra que estou de você!). Acho que os dois foram as melhores opções para o país, apesar de pilotarem um trator chamado desenvolvimento que, muitas vezes, derruba casas e vidas (que o diga as populações ribeirinhas). Além disso, minha arma cidadã está constantemente apontada contra aqueles que representam o que mais abomino na política brasileira. Porém, ressaltemos: não sou petista. 

O PT me perdeu definitivamente (e está cagando pra isso, é verdade) quando o Pimentel dissolveu o partido em Belo Horizonte. Tenho um amigo que diz: “não vou desistir. Não vou entregar o PT, vou ficar e lutar. Vou disputar o partido”. E eu pergunto: qual? Esse que confirmou o apoio ao Lacerda? Tá certo, existem uns gatos pingados tentando fazer alguma coisa que lembra aquilo que um dia foi o Partido dos Trabalhadores, mas a grande maioria parece atuar em benefício próprio ou em nome de um bicho de dezoito cabeças chamado conjuntura nacional. Vontade de gritar: “não vendam a minha cidade em nome dessa porra!”. Mesmo assim, insistem em dizer que eu sou petista.

Andei investigando o fenômeno. As pessoas que me acusam de petista não o fazem por causa do meu voto ou da minha outrora militância fajuta. A alcunha que recebo é por ser a favor do sistema de cotas, do casamento gay, da legalização do aborto e da maconha, da igualdade entre os gêneros, da justiça social, da distribuição de renda, do respeito aos direitos da população de rua, da reforma agrária. Sou a favor das comunidades que lutam por moradia, da taxação dos mais ricos, de invadir terras, de ocupar a cidade, de pisar na grama, de arrancar as grades, de rolar na praça, de bagunçar o coreto, de perder essa cara de limpinho, arrumadinho, engomadinho. Sou a favor da liberdade sexual, da preservação do meio-ambriente, da desmilitarização da polícia e de fuder a Veja. 

Vamos deixar uma coisa bem clara aqui, camarada: isso não chama petista, isso chama de esquerda. Fazendo um paralelo, você que não é a favor de quase nada do parágrafo anterior (nem do meio-ambiente?) não é tucano ou democratas. Talvez, você nem vote. Você é de direita. Ficou mais claro? E não me venha com esse papo de centro-blá-blá. Eu sei que depois da ditadura começou a pegar maior mal falar que é de direita nesse país, mas já está na hora de encarar os fatos e sair do armário: você é de direita. Essa é a condição em que você se encontra por livre e espontânea vontade. Você pode até não ser de extrema direita, um reacionário-nazi-babaca, mas desiste de me convencer desse centro-sei-lá-o-que. Já eu sou de esquerda: sem centro e sem meia. De cara limpa e sem a menor disposição para alianças escrotas. Eu sou de esquerda: bem menos do que almejo, bem mais do que você tolera. 

Agora, podemos começar a conversa?

5 comentários:

  1. Júlia, suas palavras ecoam minhas concepções! BRAVO! BRAVÍSSIMO!
    Com afeto!
    Beatriz

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  2. Como dizia Acton O poder absoluto corrompe.
    Como digo eu: O poder politico eh sempre corrupto em qualquer lugar do mundo.

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  3. Ainda existem pessoas assim ai no Brasil ??????????

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