quinta-feira, 28 de julho de 2011

Fulana

"Quero ser sua amiga". A singeleza de Claudinha diante da minha negligência e apatia foi uma máquina do tempo. Retornei ao ano de 1991, quando mudei de escola. Momento assustador na vida de uma criatura de onze anos.

Uma das primeiras amigas que fiz era uma chata. Amiga do tipo “ainda-não-tenho-personalidade-suficiente-para-passar-o-recreio-sozinha”. Ela logo me avisou: não fale com a Fulana. Fulana não presta. Não admito apontar de dedos. Quem que na pré-adolescência não acatou avisos como esse sem questionar que atire a primeira pedra. Fulana virou persona non grata para mim.

Mas não demorou para me enturmar. Aos poucos, notei que meus coleguinhas nutriam uma curiosidade por mim. Eu era a novidade. Resolvi abusar da fama repentina e dei uma festa. Tema-auge da novela das oito, a festa era cigana. As meninas de saiões e brincos dançavam Please Don´t Go em uma pista com gelo seco e iluminada pela sequencia de luzes azul, verde, vermelho e amarelo (agora bati fundo na memória afetiva). Fulana não foi convidada.

Passado um tempo, estou indo embora pra casa e sinto um cutucão. Uma cartinha é estranhamente jogada em minhas mãos por um remetente apressado. Espanto. A despeito de minha grosseria, Fulana, em versinhos rimados, me dizia delicadamente “quero ser sua amiga”. Ali começava uma das relações mais profundas, fraternais e significativas da minha vida.

Da amiga chata, nunca mais ouvi falar.

Naninha, amo você infinito.
Claudinha, também quero ser sua amiga.

Um comentário:

  1. Você escreve tão lindamente... É como se a vida tivesse trilha sonora!
    Beijos, Ju

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