segunda-feira, 30 de março de 2009

Bem-vinda

Da porta de casa, escuto a notícia: “eles vão ter uma menina”.

- Coitado! – a exclamação melancólica parece sair da boca da futura bisavó;
- Não estou triste. Só decepcionado – ameniza uma voz masculina;
- Já eu fui competente. Tive um menino – enaltece outra voz masculina um pouco mais alegre;

Apesar dos sons das vozes me serem bem familiares, corro para a sala com a esperança de encontrar a TV ligada na novela clone de O Clone. Infelizmente, constato que o diálogo absurdo não foi pronunciado pelos indianos caricatos de Glória Perez.

De repente, sou tomada de uma sensação de terror e me vem à memória um filme B da década de 80 no qual acontece não-sei-o-quê e as personagens ficam presas em um passado sombrio.

Corro esbaforida, sinto meu coração palpitando, a garganta seca. Abro o jornal e grito aliviada: 2009! Estamos em 2009!

Relembro o diálogo e o alívio, subitamente, se transforma em perplexidade.

A menina que está por vir logo perceberá que, por mais que as aparências enganem, na sua família são as mulheres que mandam. Algumas com jeito, outras com falta de jeito, conseguem que os homens que as rodeiam façam tudo, ou quase tudo, do jeito delas. Ela saberá que, nessa família, teve uma mulher de olhos azuis a quem todos obedeciam e que, hoje, são as sete mulheres (com ela oito) que ditam as regras. Se um dia souber do diálogo acima, olhará para o seu pai babão e que por ela tudo faz e não entenderá nada. Estando nessa família, essa menina vai logo aprender que machismo merece deboche, que as mulheres não são iguais aos homens (e nem melhores, e nem piores) e que são justamente as diferenças que tornam tudo bem mais divertido.

Esse post merece o filme belíssimo que a Lápis Raro fez para o Dia Internacional da Mulher:

quarta-feira, 25 de março de 2009

Depois da Crise

De minha família paterna, herdei o péssimo e inútil hábito de pensar no que está por vir. Às vezes o que vai acontecer ocupa mais minha mente do que o que está acontecendo. Quando o pensamento é ruim, dizem que estou “sofrendo por antecedência”. Se é bom, estou “contando com o ovo no fiofó (adoro essa palavra. Pronunciá-la – fiofó – já me dá vontade de rir) da galinha”.

E, “futuróloga” que sou, já não agüento mais falar de crise – pacotes salva-vidas, ricos menos ricos, pobres mais pobres e manuais dos mais diversos tipos: como sobreviver em tempos de crise, dez coisas para a crise não pegar você, deixe a crise no vizinho. A própria crise gerando o mercado da crise. Enfim, quero saber o que será depois.

Qual impacto essa situação gerará na nossa sociedade? Já conseguiremos perceber mudanças ou precisaremos de um distanciamento histórico para notar as diferenças? Que análise farão as futuras gerações do que somos e do que nos tornaremos?

Enquanto o futuro não chega, faço o que não devo e sonho com ele. Seria imaginar uma forma de me preparar?

segunda-feira, 23 de março de 2009

O PMDB e eu


Gosto de política. Acompanho, leio o noticiário, assisto horário eleitoral. Nesta semana, eu senti vergonha alheia com as propagandas veiculadas pelo PMDB. Uma falava do remoto passado de uma permitida oposição à ditadura, a segunda da importância do partido para a superação da crise (alguém me explica?) e a última (aconselho aos sensíveis a pararem de ler por aqui) diz que o partido está “tomando porrada de tudo quanto é lado” devido à sua magnitude. Alguém dá um chá de sabedoria popular no Temer? Se não tem nada pra falar (ou nada que possa ser dito e, ainda assim, permanecer fora da cadeia) é melhor ficar calado.

Onde estão as explicações sobre os escândalos de corrupção envolvendo os caciques do partido? Diante do silêncio, onde estão os panelaços à la nossos hermanos? (por que Papai Noel ainda não chegou?)

O Brasil é uma pátria de anestesiados, petrificados diante da certeza de que nada adianta, de que gritar só os deixará roucos. O Sarney assume o senado, o Renan volta triunfal, Newtão assume patrimônio bilionário e isso não gera nenhuma comoção. Digo por mim: não marchei, não fiz abaixo assinado, não fiz greve de fome, não gritei e sequer chorei. Nem mesmo pensei nisso após o fim do jornal. Eu sou o retrato desse país mudo. Gosto de política, mas não a ponto de me envolver.
A charge (fantástica, né?) foi retirada do blog

domingo, 22 de março de 2009

Diferenças


Judeus, palestinos, cristãos, muçulmanos, hindus, umbandistas, homossexual, heterossexual, bissexual, pansexual, metrosexual, assexual, negros, brancos, índios, pardos, amarelos, ingleses, chineses, brasileiros, alemães, mulheres, homens, velhos, esquerdistas, direitistas, pobres, ricos e emergentes.

E depois de tudo, a única diferenciação que faz realmente sentido é aquela entre as pessoas que comem trivialmente um biscoito recheado e as que se reservam ao direito de retirar com os dentes a sua primeira camada, raspar seu recheio e, só então, engolir o restante.

sábado, 21 de março de 2009

Dá pra fazer

Tem coisas que só o horário eleitoral gratuito faz por você. Em BH, na última campanha pela prefeitura, foi o bordão "dá pra fazer". Não consigo mais falar que algo é possível sem recorrer a ele e, acredito, muitos belohorizontinos sofrem desse mal.

Eu amo propaganda (bem feita, claro!). Como
há três posts abaixo eu disse que o Ministério da Saúde só faz propaganda "desconectada" tentando incentivar o uso da camisinha (desconectada, nesse caso, é sinônimo de "héin?"), venho aqui provar o meu argumento com propagandas fantásicas sobre o tema garimpadas no youtube (algumas já foram mais do que disparadas por e-mail).

Propaganda boa de camisinha. Isso dá pra fazer.








terça-feira, 17 de março de 2009

Balzaquianas: a pesquisa

Intrigada com o novo marcador que inventei para o blog - balzaquianas - fui pesquisar o que existe sobre o tema na internet. 15 mil resultados no google.

Resultado 1: "Há quem empregue a palavra balzaquiana de forma pejorativa e até negativa. Mas, na realidade, é com 30 anos que as mulheres chegam ao seu ápice: mais maduras, realistas e vividas, elas esbanjam sensualidade e realização". Uma pessoa lê isso, se olha no espelho e pensa: fudeu! (quem se choca com palavrões substitua aqui por "carambolas"). Considerando que tenho 28 anos e não me sinto vivida e nem esbanjando sensualidade e realização, nos próximos dois anos passarei por uma transformação dráaaaastica. São 730 dias pra me encaixar (perceberam que estou com mania de números? Me sentindo o IBGE).

Resultado 2: "Busco através deste blog socializar experiências, saberes, opiniões e curiosidades acerca do universo feminino, nos seus mais variados aspectos". Esse eu pulo. Desculpa colega blogueira, mas ainda não estou pronta para esse tipo de informação.

Resultado 3: "...Honoré de Balzac retrata os conflitos de Júlia d`Àiglemont, uma mulher mal casada, que tem consciência dos problemas que envolvem um matrimônio e que se vê esmagada pelos tabus da sociedade..." Cadê as pessoas que não acreditam em coincidências para dizerem oooooohhhhh? A mulher é minha xará!

Sou Júlia. Me sinto esmagada pelos tabus da sociedade (cada época com seu tabu e nem venham me perguntar quais tabus me esmagam porque a internet não é privê). Só falta eu casar e tomar consciência dos problemas que envolvem um matrimônio!

Resolvo interromper a busca (nota mental: quando fizer uma pesquisa, esteja preparado para os resultados).

Lá vem a noiva


Cheguei à fase dos casamentos. É difícil admitir, mas é a mais pura verdade. Ano passado, dois amigos casaram. Achei que era um saldo bom e que permaneceria assim, mas, neste ano, fui a um casamento e recebi convites de outros quatro. Se continuar nesse ritmo, quando o ano terminar terei ido a 20 casamentos o que significa um aumento de 1.000%. Considerando que existem cerca de 30 pessoas a quem posso chamar de amigo, no meio de 2010 todos os meus amigos já terão casado!

Sim. Sei que estou sendo alarmista, mas é difícil constatar o que a desaceleração do meu metabolismo já indicava. A idade contada em festas: as de 15 anos, as de formatura, os casamentos (onde estou). O que vem depois? Bodas?

No carro, pensando em qual vestido usar no casamento da Cris, coloco o CD do Chico e música vai, música vem, chega “Flor da Idade”. Só pode ser perseguição. A música que fala “aí a primeira festa, a primeira fresta, o primeiro amor...”, me mostrando que envelhecer é ver os “primeiros” serem cada vez mais raros. O que fazemos que é novidade? Não vale comer em restaurante novo. Tô falando daquela novidade que de tão inédita faz a nossa barriga doer de ansiedade. Pois é... Pensando bem, acho que casar deve ser uma novidade bem grande.

Cris e Digo, desejo a vocês tolerância e ternura

segunda-feira, 16 de março de 2009

Pause


Tive um final de semana de boas companhias, bons passeios, muitas risadas e um desligamento necessário do resto do mundo. Durante 48 horas eu não pensei em contas, clientes, ligar pra fulano ou ciclano. Soube por alto as notícias, mas só ontem me interei de Kléber Barbosa da Silva e seu suicídio-infanticídio aéreo e dos últimos números da crise internacional.

Às vezes, é necessário nos colocar, dois dias que seja, em pause. Permitir-se não estar conectado, informado e antenado. Não se trata de uma posição estúpida contra a tecnologia (amo tanto meu laptop e ipod que não preciso de animais de estimação para alegrar a casa), mas de uma constatação que precisamos, em alguns momentos, parar.

O estresse (existe em português) como doença já virou uma questão de saúde pública. Seguem sugestões de campanhas para o Ministério da Saúde:


“Não leia e-mails aos domingos”
“Antes de dormir, desligue o celular”

“Tire férias”

“Não leve jornal para a praia”

Podem ficar mais interessantes do que as “desconectadas” campanhas pelo uso da camisinha.


OBS: Marina reclamou do post Única, dizendo que sempre lê o blog. Agora, já são duas.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Em algum lugar do Rio


Ontem, uma amiga alemã foi me visitar. Ela adora o Brasil, mas se sente um pouco deslocada e estranha a cultura local. É a perfeita descrição do que sinto quando estou no Rio. Aqui, sou alemã.

É que mineiros e cariocas são muito diferentes. As montanhas cuidaram para que os primeiros fossem reservados, fechados. O mar, fez de quem nasceu por essas bandas expansivo, "esparramado". Não existe um problema, mas um estranhamento.

Carioca fala o que pensa. Mineiro guarda. Guarda tanto que vira "ite": sinusite, bronquite, faringite... e até coisa bem pior. Sinceridade para mineiro é desrespeito. O dia em que você ver um mineiro fazendo abertamente uma crítica ou reclamação, separa que é briga. Mineiro não reclama nem com fura-fila. Já carioca fala de um jeito que, aos nossos ouvidos, é briga mesmo. Mas quase sempre não é.

Finalizo a filosofia de butiquim por aqui porque tenho que aproveitar o mar.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Única


Tenho apenas uma leitora assídua: Maria. Não é a única pessoa que passa por aqui, como o contador aí do lado indica, mas é a única que sei que lê todos os posts (gente que gosta de escrever é tão metida que com uma leitora já fica se sentindo).

Ao ler o que eu escrevo, Maria me transforma em escritora (mediana que seja) e também me faz sentir que escrever aqui é uma grande responsabilidade. Fico culpada quando deixo o blog desatualizado. “Será que Maria já entrou?”.

Estou lendo “Campo Geral” de Guimarães Rosa que não precisa de mim. Se conseguisse escrever uma única linha roseana, talvez também não precisasse da Maria, mas eu não tenho essa ilusão. Se ficasse 80 anos tentando, perderia 80 anos e não sairia uma linha que seja.

Enquanto Maria me agüentar, serei escritora de uma única leitora. Quando Maria se cansar, esse blog não mais existirá.

domingo, 8 de março de 2009

Denunciar Abuso


Os posts abaixo “Por que o susto?” e “Ver pra que?” que, não por coincidência, são questionamentos, me colocaram na mira de um direitista fanático no orkut, o “Sacerdote Anasta Castello Branco”. O perfil é falso (fake na linguagem usada na rede), mas surpreendente. Vale à pena ler o “quem sou eu”, onde ele diz que é um servo do Senhor, admirador do Dops, ataca mulheres e homossexuais e finaliza com “mas esses filhos bastardos não nos vencerão. O senhor está zelando por nós” (rolei no chão). No álbum, fotos da Ku Klux Klan. Vários outros perfis falsos, que não sei se também são gerenciados por ele ou por outros fanáticos, lhe chamam de mestre (alguém chama o master Yoda para nos salvar?)

A tática é intimidar por meio de xingamentos e ameaças de criação de um perfil falso com meu nome e foto. Até o momento, fui xingada de puta e vadia (bocejo, como diz o pessoal do te dou um dado). Nenhum perfil falso por enquanto mas, por via das dúvidas, consultei um amigo da polícia civil que se especializou em crimes pela internet.

Momento serviço de utilidade pública:

Caso seja criado um perfil falso com o seu nome ou foto, ou algum perfil resolva te “atacar” por meio de scraps ou comunidades, será configurado, assim como no mundo real, crime de calúnia, difamação e injúria. O primeiro passo é ir ao “denunciar abuso” do orkut e contar o que ocorreu, ou mandar uma notificação por escrito para os escritórios da Google em São Paulo ou Belo Horizonte. Na seqüência, procure uma Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática e faça uma queixa. Você pode também entrar com uma ação na justiça ou ir até o Ministério Público. O Orkut será obrigado a retirar o conteúdo e o cretino, mesmo com o perfil falso, ainda poderá ser encontrado por meio do IP. Não esqueça de juntar as evidências (tratei de dar um print nas páginas antes de apagar os recados).

Darth Vader(s) à parte, o incidente me mostrou o “lado negro” da rede de relacionamentos, onde os crimes vão desde o ataque à honra até racismo, pedofilia e venda de drogas. Pessoas (será?) que se escondem atrás de pseudônimos ridículos para praticarem crimes (sendo que o pior deles é ser patético), infelizmente, estão em toda parte, no mundo real e virtual. O que me pergunto é até onde vai a responsabilidade da própria Google. Pode uma empresa instrumentalizar marginais e lavar as mãos? Limitar-se a aceitar as liminares judiciais é o suficiente?

Considero inaceitável a alegação de que é impossível controlar o conteúdo postado. O Orkut tem cerca de 13 milhões de usuários e nem todos totalmente ativos. Se fosse contratado um moderador para cada 5 mil usuários (creio que seja o suficiente) seriam necessários 2 mil e 600 moderadores. Se cada moderador ganhasse mil reais seriam 2 milhões e 600 mil reais por mês e 31 milhões e 200 mil reais por ano gastos com o controle do conteúdo postado. Portanto, jeito tem. Não tem é interesse.

Até agora, a denúncia que fiz ao Orkut não resultou no cancelamento do perfil. O conteúdo racista, homofóbico e machista de Sacerdote Anasta Castello Branco permanece no ar.

sábado, 7 de março de 2009

Por que o susto?


Excomungados! Vociferou o arcebispo de Recife e Olinda, Dom José Cardoso Sobrinho, contra os médicos que fizeram o aborto da menina de nove anos estuprada pelo padrastro, já que não podia queimá-los em praça pública. O país ficou chocado com a intransigência inquisidora da Igreja Católica e Dom José está sendo, literalmente, queimado em horário nobre, até pelo católico presidente.

Me choca, e espero que nunca deixe de chocar, qualquer tipo de violência contra uma criança, mais ainda a sexual. Não me choca, mas me intriga, o fenômeno brasileiro dos comunistas (como até bem pouco tempo atrás se auto proclamava o nosso presidente) católicos, impulsionado pela também excomungada Teoria da Libertação. Mas não me choca e nem me intriga, em nenhum momento, a intransigência inquisidora da Igreja Católica.

Bento XVI (antes fosse Chico Bento) vem não apenas confirmando que comanda uma Igreja em total desarmonia com o seu tempo, como é o grande incitador de violências arcaicas contra os homosexuais e as mulheres. Vale lembrar também que essa instituição, enérgica quando o assunto é a quebra dos dogmas, é profundamente vacilante diante do escândalo da pedofolia cometida por padres. Diante disso, não entendo o que existe de chocante na atitude do arcebispo.

Melhor seria se esse episódio reacendesse o debate sobre uma questão religiosa determinar a lei de um estado laico. Diferente do que pensa Bento, as mulheres não são máquinas a serviço da reprodução de mais católicos. Pelo contrário. Possuem o direito sagrado (que deveria ser legal) sobre o corpo e a vida.

Onde é a fila da excomunhão mesmo?

quarta-feira, 4 de março de 2009

Ao mestre, com carinho


Recebo o convite de formatura de um rapaz que já foi meu estagiário. Dentre os agradecimentos aos familiares e amigos de faculdade, encontro meu nome, ao lado de outras pessoas para quem ele trabalhou. “.... mestres e referência, para a vida inteira”. Engasgo emocionada. Ligo e agradeço, mas nem consigo me lembrar direito da rápida conversa ao telefone. Leio e releio o trecho, em um misto de vaidade, surpresa e vergonha. Sim, vergonha. Não consigo encontrar em minha memória um único momento que seja – uma dica, uma conversa, a correção de um trabalho – que demonstre a minha contribuição na transformação do ex-estagiário em profissional.

Diferente de mim quando comecei. Consigo sentir o cheiro e lembrar dos sons do meu primeiro dia de estágio, de tão ávida que é a memória em minha mente. O jornalista Acyr Benfica era o meu chefe e a nossa missão era cuidar da comunicação de um importante colégio. Acyr já tinha muitos anos de profissão e trabalhado de televisão a campanha política. Eu estava no terceiro período de faculdade e ainda não tinha entrado nas matérias específicas de jornalismo. Ele me informou que teríamos um evento, me passou as informações e solicitou um release. Eu sorri e disse que tudo bem. Estava ali, no primeiro dia de trabalho do primeiro estágio que tive na minha área e não sabia o que era release. Recorri à internet e descobri que release vinha de press release, ou seja, um texto para informar a imprensa de algum fato. Esclarecido o significado vinha o segundo passo: como escrever um release? Havia escrito somente cartas, contos e poesias e o que tinha aprendido na faculdade até então seria muito mais útil para um artigo sociológico. Fui no modelo de redação escolar mesmo: um parágrafo de introdução, dois de desenvolvimento e um de conclusão.

Pela cara do Acyr quando eu entreguei o trabalho, logo percebi que o resultado tinha sido um desastre. Ele sentou ao meu lado e disse “vamos refazer juntos?”. Ele refez. A cada corte ou substituição de palavras, uma explicação. Aprendi ali como fazer um release (algo que nunca me foi ensinado nos quatro anos de curso universitário). A grande lição que tive, no entanto, foi sobre o que é ser generoso com o conhecimento e ter paciência com quem ainda não sabe. Depois disso, trabalhei com vários outros excelentes profissionais, mas o Acyr, com certeza, é um “mestre e referência, para toda a vida”.

A propósito, o ex-estagiário mencionado me impressionou com a qualidade do primeiro release que escreveu, logo em seus primeiros dias de trabalho.

André: felicidades na formatura e em sua trajetória profissional.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Para Noah


Noah é Noé em português. Vamos combinar que Noé é o velhinho mais simpático dos personagens bíblicos. Salvava os bichinhos, construía a arca e não se importava de ser gozado pelos outros. Porque, cá pra nós, Noé foi gozado, né? Era só Noé começar com “Deus me mandou construir uma arca e colocar os animais...”, que todos caiam na gargalhada. Imagino se Noé teve um pingo de satisfação, um pinguinho que seja, aquela satisfação do “bem que eu avisei...”. Mas acho que não, Noé era do tipo bom. Mas Noah, aos ouvidos brasileiros, não parece um velhinho bondoso, mas um surfista bem jovem e bonitão das praias do Hawai. Daqueles que entram nos filmes para sofrer traições, se reerguer e ficar com a heroína. Vi um filme bem água com açúcar que tinha um Noah irresistível. Irresistível quando dito por uma mulher é: lindo, meio safado, mas bom moço. Aquele tipo cachorro vira lata carente e charmoso. E sendo o Noah, meu sobrinho, brasileiro por decendência e americano por nascença, só posso esperar que ele tenha a sabedoria de um velhinho simpático e a jovialidade cativante de um mocinho de filme.

Especial, com certeza, ele já é. Ao invés de “bebê pra lá”, “bebê pra cá”, na fatídica fase do sem nome e sem sexo, foi chamado de “nipote”. Nipote é a palavra italiana que serve tanto para sobrinho quanto para neto (mas acredito que não sirva para sobrinho-neto). E o apelido fez com que ele fosse uma figura muito mais presente do que se tivéssemos usado o frio, distante e comum “bebê”. Nipote participou de nossa viagem à Roma, comeu anchovas e tomou um susto danado quando eu resolvi passar mal em plena Citá di Vaticano. Mas especial não apenas no nome, mas no amor que todos sentimos. Já nasceu caindo nas profundezas do amor profundo que os pais sentem um pelo outro e, agora, mais ainda, no “todos por um”. E tem também as avós que se acotovelam pra ver quem está mais embevecida. Mudando o DDI, uma infinidade de avôs, adquirida pela estripulias casamenteiras da mãe do pai, fica tão orgulhosa que fica difícil saber: quem é o avô mesmo? Mas o nariz, que apesar de pequeno é grande, não mente... quer dizer, se os Valérios têm nariz grande, o que podemos dizer dos árabes e italianos? E assim, a cesta de amor só aumenta, com um tio que é tio só porque quer, assim como sempre quis ser irmão, mais tios, a bisavó que é também um pouco avó porque já foi também um pouco mãe, a tia-madrinha que já faz planos mirabolantes para todos os encontros que eles terão e consegue até sentir o bom cherinho de bebê pelas fotos que recebe por e-mail, os priminhos e o tio-padrinho que moram na terra do Obama mesmo e outros, vários outros. Acho que toda família pensa assim: ele é o mais amado e o mais bonito do mundo. Não nos furtem o clichê e o senso comum. Acredito tanto nisso, que acho que todas as outras estão erradas.

E por falar em Obama, que época que cismou em nascer esse menino. É o fim ou o começo? Quando vemos a carinha de Mr. Magoo, a linguinha de piriquito, essa coisinha pequena e linda que precisa de nós, conta com a nossa proteção e nada sabe do perigo, da fome, da guerra, da maldade, da bandalheira aí e aqui, não temos a menor dúvida: é o começo. Só pode ser o começo.

À Noah, para quando puder entender, da sua tia-madrinha.