terça-feira, 27 de julho de 2010

Interrogação?


“O ponto de interrogação é colocado no final de frases interrogativas”, nos diz a regra. Em nenhum lugar, no entanto, encontramos uma clara descrição de sua exceção. Pois pensa você que toda pergunta tem seu ponto de interrogação evidente? Tolinho... É claro que não! Existem aquelas perguntas que terminam com pontos finais ou reticências. Existem até as que terminam com exclamações. E o que buscam perguntas senão explicações? Saiba desde já que é na exceção relatada que reside a mais ansiosa espera pela resposta.

Ela diz para ele com os olhos marejados: “acho que você não gosta mais de mim”. Ou ainda: “tenho certeza que você não irá voltar”. Percebeu? Aprenda a procurar nas entrelinhas. É lá que se encontram as coisas indizíveis, esperando serem descobertas. E é lá que, nesse caso, está o ponto de interrogação. Mesmo travestido de certeza, ele grita, suplica e transforma minutos em uma angustiante eternidade.

Por favor, responda rápido.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Luto(a)

Converso, saio, encontro amigos, trabalho e escrevo.
Vou à lona. “Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete...”. Levanto novamente.

Tomo café, brinco, assisto filmes, recebo irmão e janto.
Vou à lona. “Um, dois, três, quatro, cinco, seis...”. Levanto novamente.

Abraço, beijo, bebo, respondo e-mails, jogo futebol e danço
Vou à lona. “Um, dois, três, quatro, cinco...”. Levanto novamente.

Olho à minha volta. Na arquibancada lotada, todos torcem por mim.
Dessa vez, cambaleio, mas não caio.

Estudo, leio, rio, telefono, como melancia e vejo TV.
Vou à lona. “Um, dois, três, quatro...” Levanto novamente. Cansada, pergunto se ainda vai demorar muito. “Esse é apenas o primeiro round, minha filha”.

Folheio revistas, releio cartas, faço fofoca, sinto saudade e invento histórias.
Vou à lona. “Um, dois, três...”. Levanto novamente.

Consigo, de relance, ver meu adversário. Rosto familiar que reconheceria no espelho. Face dos meus temores mais íntimos, da minha inconformidade. Sempre lutamos, mas nunca tanto assim... De qualquer forma, sei que essa luta não terminará em nocaute. Notaram que estou levantando cada vez mais rápido?

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Your secret

A singeleza desse vídeo me tocou tanto nesse final de sexta-feira, que "roubei" do facebook da Carol e coloquei aqui (especialmente para Jojo Alves e Flavinho. Obrigada pelo carinho):

Your secret from Jean-Sebastien Monzani on Vimeo.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Rasteiras

Texto da Missa de 7o Dia (para Clarissa, Daniel e Dona Vilma)

Rasteiras na morte. É o que dá desde a juventude essa pessoa tantas vezes rebatizada: Dite, Dinha, Key, Didi (como será que lhe chamam agora os anjos?).

Para os amigos, confidente leal. Da família, defensora incondicional – sempre a perdoar nossos defeitos. Da Companhia Telefônica, cliente ouro. Pelo fio do aparelho tudo sabia. Distribuía amor e conselhos. Quem aqui não teve um pouquinho que seja da vida acompanhada por ela? Corpo franzino que tantas vezes foi a nossa fortaleza! Generosidade que conquistava amigos de todos os tipos, idades, credos, classes sociais... todos cabiam em seu coração.

Para mim, foi muito mais. Ao seu lado, conheci o significado da palavra mãe. Agradeço os cuidados na infância, o porto-seguro na adolescência e a amizade na vida adulta. Agradeço por ter me preparado para tudo, menos para esse momento.

Agradeço também, em nome de toda a minha família, ao carinho e ao apoio de todos aqui presentes, ao padre – que respeitosamente chamamos de Ricardo – e às freiras do convento das Clarissas por sempre terem orado por nós, quando ela assim pedia, e por terem aberto esse espaço tão especial para nos acolher.

Rasteira. É o que hoje damos na morte, pois, em cada um de nós, Dite, Dinha, Key ou Didi viverá eternamente. Descanse no colo de Nossa Senhora e vele por seus amigos e por sua família que tanto te amam.