quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Silêncio

Uma segunda qualquer. Um telefonema aflito. Do outro lado da linha, a vida dá o seu recado mais brutal: “olá você que fez planos. Planejou viajar, planejou descansar, planejou comer bolachas, planejou que hoje seria um dia bom. Faça tudo, meu bem, menos planos”. O que dizer? O que podemos dizer para aqueles cujos pés estão sem chão, a mente sem orientação e a alma sem vontade? Adiantaria lembrar-lhes que ainda existem as músicas que falam de pássaros pretos? Às vezes, não temos nada pra dizer, mas tudo bem. Amizade e amor também se manifestam em presenças silenciosas.

Para Duda, que fica ainda mais bonita quando chora e que adora músicas sobre pássaros pretos.

sábado, 13 de novembro de 2010

Ser

Encontram-se dentro de mim o bem e o mal, a ordem e o caos, a esperança e o desespero. Não corretamente divididos, como se acondicionados em compotas de sentimentos e intenções. Entre meus impulsos antagônicos, nenhuma fronteira, real ou imaginária. Antes pelo contrário. Estão misturados de tal forma que torna-se impossível separá-los. Residem em mim como gêmeos siameses que compartilham os mesmos pulmões.

O resultado é uma bondade que também é egoísta e uma maldade impregnada de candura. Impera em mim uma organização caótica e uma desesperada esperança. Não sou totalmente nada e nunca o nada em mim é totalmente.

Assim, sou feliz. Assim, sou triste. Indistintivamente.